Rodrigo James, 35 anos, publicitário, jornalista, assessor de imprensa, dj amador, músico de computador, diretor de rádio lê, ouve, escreve, fala e respira cultura pop. Também atende nos websites www.programaaltofalante.com.br, www.portal180.com.br, no Orkut (http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=1365547244323894215), no MSN (tá bom que eu vou dar meu MSN assim assim) e está aberto a opiniões, crítica, chacotas e o que mais passar por sua cabeça. Ah, o email para contato é r.james@terra.com.br

domingo, outubro 14, 2001

Desde já, estou treinando para o do ano que vem...

A febre da ‘air guitar’ se espalha pelo mundo e ameaça o reinado de Eric Clapton

A manhã o espelho vai ficar a ver navios. À noite, no palco da Praça da Apoteose, Eric Clapton vai estar mostrando por que um dia foi considerado o deus da guitarra, tocando, como sempre, com simplicidade e emoção divinas. Ao seu lado, fazendo a base e um solinho aqui e outro ali, vai estar o veterano guitarrista Andy Fairweather-Low.

Mas eles não estarão sozinhos.

Na platéia, Clapton estará sendo acompanhado por dezenas — ou centenas? — de “músicos” tocando o mais famoso instrumento do mundo dos sonhos: a “air guitar”.

Traduzindo livremente, “air guitar” é aquela guitarra que quase todo mundo já “tocou” um dia, encarnando um superstar do rock em frente ao espelho, solando, fazendo base, participando de duelos e enlouquecendo os fãs. Na boa, vai dizer que você nunca fez isso?

Joe Cocker fez. Salvo provas em contrário, sua performance na música “With a little help from my friends”, durante o festival de Woodstock (o original), marcou o ano zero da “air guitar”.

Por causa do imortal filme sobre o evento, as imagens do cantor cambaleando pelo palco, os olhos fechados e os braços segurando uma guitarra imaginária, correram o mundo e influenciaram gerações de “air guitar players”.

Deu no que deu. O “instrumento” ficou consagrado e tornou irreal o sonho de milhões de pessoas que nunca tiveram a chance de aprender a tocar guitarra de verdade, gente que nunca estudou em Berkley, jamais trocou figurinhas com um velho bluesman e não se chama Jeff Beck ou Edward Van Halen. E o mundo, claro, nunca mais foi o mesmo.

— No começo, eu imitava Jimi Hendrix e Jimmy Page — diz o DJ e músico Edinho. — Depois, na minha adolescência, só deu Ramones e punk rock, uma coisa mais visceral. E não ficava só em frente ao espelho. Fazia “air guitar” em qualquer lugar onde tocassem essas músicas. Era como se as minhas mãos ganhassem vida própria (risos).

Como os astros reais, algumas pessoas tinham suas próprias excentricidades na hora de pegar o “instrumento”. Como o famosão DJ Maurício Valladares (que, pouca gente sabe, toca um baixo real de primeira).

— Eu tocava “air bass” ao som de “Voodoo Child”, do Hendrix. — lembra ele, que comanda hoje, no Cine Ideal, mais uma edição da festa Ronca Ronca. — Mas eu não tocava em frente ao espelho. Eu ficava de costas para a platéia.

Os melhores "instrumentistas" usam as legítimas Philson Stratoblasters

Rodrigo Quik, dos grupos Perdidos na Selva e Narjara, praticava uma outra variação do tema.

— Fazia “air vocais”, imitando o Mike Patton na época do Mr. Bungle, que eu adorava — lembra ele. — E o pior é que não fazia isso sozinho em casa. Fazia em festas, com coreografia, na frente de todo mundo. Mas agora eu sou normal.

Hoje em dia, a coisa atingiu níveis estratosféricos. Os jovens americanos Beavis & Butt-head jamais dispensam uma “air guitar” em suas aparições. A poderosa empresa japonesa de jogos Konami — responsável pela fantástica série de futebol “Wining eleven” — lançou ano passado “Guitar freaks”, uma espécie de prévia do que vem por aí (para Playstation 2): o jogo “Air guitar freaks”, que promete fazer de você um Pete Towshend ou um, vá lá, Slash.

Mas é na internet — onde mais? — que o “instrumento” vira uma hilária mania. No site Mirrorimage (http://mirrorimage.com/air/index.html) o “renomado” R. “Bud” Philson, inventor das renomadas guitarras imaginárias Philson Stratoblaster (uma brincadeira com a real Fender Stratocaster), ensina como tocar “air guitar”. De preferência usando uma Philson legítima.

— Eu não faço “air guitar” em frente ao espelho porque vou ficar deprimido com minha imagem — diz Rodrigo Lariú, do selo midsummer madness, que até o final do ano vai lançar discos dos grupos Cassino (ex-4 Track Valsa) e Fellini. — Mas já “toquei” várias vezes junto com o My Bloody Valentine durante o banho.

Mas atenção, Rodrigo: ninguém se torna um “air guitar hero” da noite para o dia. Segundo R. “Bud” Philson, é necessário treinar durante horas, dias até, para se tornar um mestre. “Você precisa ter presença de palco, carisma e atitude”, explica ele no site.

E os melhores entre os melhores se reúnem anualmente na cidade de Oulu, na Finlândia, onde rola, há seis anos, o Campeonato Mundial de Air Guitar. É sério! Cada candidato tem um minuto para mostrar sua técnica e seu estilo. Este ano, o vencedor foi o inglês Zac “Mr. Magnet” Monro, graças a uma espetacular performance (confira o vídeo no site http://www.omvf.net/english.html) na qual ele chegou a pedir mais retorno para a sua “air guitar”.

Então se amanhã à noite, quando Eric Clapton, o deus da guitarra real, soltar os primeiros acordes de “She don't lie”, você sentir aquela irresistível vontade de acompanhá-lo, não fique com vergonha. Tocar “air guitar” é divertido e não dá choque. Principalmente se você estiver usando uma autêntica Philson Stratoblaster.

Não aceite imitações!