Rodrigo James, 35 anos, publicitário, jornalista, assessor de imprensa, dj amador, músico de computador, diretor de rádio lê, ouve, escreve, fala e respira cultura pop. Também atende nos websites www.programaaltofalante.com.br, www.portal180.com.br, no Orkut (http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=1365547244323894215), no MSN (tá bom que eu vou dar meu MSN assim assim) e está aberto a opiniões, crítica, chacotas e o que mais passar por sua cabeça. Ah, o email para contato é r.james@terra.com.br

sábado, fevereiro 25, 2006

Atendendo a pedidos, vou postar aqui nossa coluna do Hoje em Dia da última quinta-feira, sobre os shows dos Stones e U2.

[esquema novo – 23 fevereiro de 2006]

Rolling Stones, missão rock: “It’s only área vip but I like It”


Na ocasião da primeira passagem de uma turnê dos Stones pelo Brasil – a Voodoo Lounge – em 1995, foi preciso enfrentar uma chuva quase apocalíptica pra assistir ao primeiro show, na capital paulista. Desta forma, pensar em repetir a dose, só que trocando prováveis agravantes da natureza, que pudessem prejudicar o show único em Copacabana, por selvagerias de todo o tipo, num mar de gente (nada menos que um milhão de pessoas), indicava dois caminhos: a concorridíssima área vip do patrocinador do evento ou a ida sem escalas para a apresentação do U2, em Sampa. Enterrar a sanidade na areia, nem pensar!
Uma vez na área vip, veio a certeza de que: existe mesmo o Universo Paralelo propagandeado por Lobão; a desigualdade social, no Brasil, acende uma vela pra Deus, mas confessa ter uma simpatia pelo Diabo; não teria forma mais pop de assistir ao histórico show da maior banda de rock de todos os tempos. Nessa hora é bem melhor estar entre os globais do que espremido entre os mortais. Na primeira fila e sem ninguém fazer xixi em copos plásticos pra, depois, arremessá-los na sua direção, nem dar cotovelada no seu olho, muito menos lhe roubar ou querer abusar sexualmente de você, não resta dúvida, o show dos Rolling Stones é o maior acontecimento do showbusiness mundial. 60 metros era a distância dos vips para o tsunami de gente e também o que fazia morrer na praia a tal integração social cantada e sonhada pelo Afroreggae, nas primeiras notas musicais da noite. A seguir, no refrão de “Aa, úú” dos Titãs, estavam os versos perfeitos para a turma do gargarejo do lado de lá da grade: “não como, não durmo, não durmo, não como...”. Mas chegou, enfim, a hora de acordar, de gritar e de esquecer tudo, quando Mick Jagger e seus comparsas pisaram no palco e mandaram o primeiro hino daquela babilônica noite: Jumpin’ Jack Flash! Para onde olhar neste momento? Pro frenesi do vocalista mais imitado no mondo rock? Pro guitarrista que criou algumas das mais emblemáticas composições do rock ‘n roll, pro baterista mais cadavérico e comportado do estilo, pro “irmão do Rod Stewart” na outra guitarra, pro baixista negão mais sortudo e menos excluído da história da humanidade, pro resto da banda, pro telão ou pra trás (na área vip, dava pra olhar pra trás!)? Difícil deixar o olhar fixo em apenas uma pessoa ou detalhe. Hino após hino vieram “It’s only rock ‘n roll”, “Tumbling Dice”, “Midnight Rambler”, em versão deslumbrante, a cover “Nightime's the Right Time”, em homenagem a Ray Charles, além de algumas do novo disco, entre elas “Oh No, Not You Again” que, dizem as más línguas, foi composta para Luciana Gimenes. Alguém aí duvida?
De resto e, após não só o show dos Stones, mas também o do U2, estavam todas as coisas certas, nos seus devidos lugares, guardadas todas as diferenças entre uma apresentação e outra. Bono Vox pregou e cantou. Jagger só(!) cantou, rebolou e não desperdiçou tempo com politicagens desnecessárias. Bono, demagogo que nem ele só, clamou pelo hexa da Seleção Brasileira na próxima copa, falou de Ronaldinho, tomou vaia ao puxar o “bloco do Mercosul”, citando a Argentina, e deixou claro que gosta do carnaval porque é uma festa democrática(ao contrário do show da sua banda com ingressos, disputados à tapa pela classe média, a R$ 250), une jovens e velhos, ricos e pobres.
Tudo, ou quase tudo, isso aconteceu de verdade, em Copacabana, onde Jagger e sua banda fizeram um show gratuito pra mais de um milhão de pessoas, sem demagogia nem missão de paz. Os Stones coexistiram muito mais do que Bono e seu lenço amarrado à cabeça(com o escrito “Coexita”, ampliado pelo telão). E, se o U2 desfilou na passarela pra ficar mais próximo do público, os Rolling Stones não pouparam esforços e levaram o palco inteiro pra perto da área não vip. Com esses e tantos outros dados históricos, qualquer tentativa de falar que o U2 é a maior banda de rock em atividade cai por terra. Sabe-se lá se o diabo é mesmo o pai do rock. Difícil é acreditar que Bono é uma divindade. O Todo Poderoso não faria um mega espetáculo de forma tão planejada e jamais cobraria 250 pilas pra repetir seus mandamentos no Morumbi. Em nome de Jagger, do Richards e do espírito rock, amém!(T.M.)

U2: Missa pop e cura para todos os males

Já passavam das 21h30 da última segunda, dia 20 de fevereiro, no Estádio do Morumbi, em São Paulo, quando uma garota ao meu lado disse: “Se eles abrirem com ‘Vertigo’, eu vou pular feito uma doida.” Perguntei se ela já havia visto algum show deles. Ela respondeu: “Não. Eu esperei minha vida inteira pra ver Bono desta distância”. E ela quase conseguiu realizar seu sonho em 100%. O U2 não abriu o show com “Vertigo”, mas com a linda “City of Blinding Lights”, talvez para que a garota do meu lado e os mais de 70 mil presentes se acostumassem ao fato de estarem em show do U2. Para muitos, é apenas um show como qualquer outro. Para a grande maioria, é um show do U2 e isso por si só já é fantástico. Para outros tantos – dentre os quais me incluo – é a mais perfeita celebração de boa música, visual cênico, iluminação e comunhão com o público do pop rock mundial. Um show do U2 vale ser visto até por quem não gosta da banda, tamanha é a grandiosidade do cenário e do aparato montado no palco e fora dele.
Mas, é claro, a música está em primeiro plano. E a primeira seqüência foi simplesmente matadora, com a já citada “City of Blinding Lights”, “Vertigo” (olha a garota pulando aí feito uma doida!), “Elevation” e “Until The End of The World”. Vestido com uma jaqueta dupla face com a bandeira do Brasil em uma delas, Bono pulava, corria por todos os lados do palco, dialogava musicalmente com seu comparsas de banda e incitava a multidão ao delírio. Delírio este que poucas vezes se viu em um show por terras brasileiras. Em determinados momentos, o público berrava tanto que era impossível ouvir a música. E dá-lhe clássico em cima de clássico: “New Year’s Day”, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, “Where The Streets Have No Name”, “Pride (In The Name of Love)”. Mas o U2 não é uma banda que se apóia nos clássicos da década de 80. Foi especialmente prazeroso para mim, um fã da banda desde esta época, perceber que a grande maioria dos presentes se animou mesmo com as músicas dos dois mais recentes discos (“All That You Can’t Leave Behind” e “How To Dismantle An Atomic Bomb”), como “Beautiful Day”, “Stuck In a Moment You Can’t Get Out”, “Sometimes You Can’t Make It On Your Own” (linda, com Bono sozinho no círculo central do palco e a multidão calada ouvindo a homenagem a seu falecido pai). Até uma música menor na carreira da banda, como “Miss Sarajevo” ganhou uma matadora versão ao vivo.
Ao final, a apoteose, com “Misterious Ways” e a redenção, com “With Or Without You” e Bono mantendo a tradição de puxar uma garota da platéia para dançar com ele. O show encerraria com The Edge e Adam Clayton trocando de instrumentos em “40”. Faltou alguma coisa? Claro que sim! “Bad”, “Stay”, “Walk On” e tantas outras. Mas assim como é difícil para uma pessoa que não gosta de música pop entender o porquê de tamanha idolatria, deve ser difícil para a banda montar um set list que satisfaça seus fãs. Ainda mais quando estes fãs são os brasileiros, que esperaram oito anos para que a banda voltasse ao país para shows. Ta bom U2, a gente até perdoa vocês terem demorado tanto para voltarem e a confusão na venda dos ingressos para este show, mas por favor não se esqueçam de nós da próxima vez.(R.J.)